sexta-feira, 18 de julho de 2014

Alívio e prazer.

Por persistência, hoje consegui sintetizar em apenas duas palavras impressões que me perseguem nos detalhes sutis que me fazem companhia nos dias mais introspectivos. Gostaria de me dedicar a um profundo mergulho no universo sensorial, mas para não correr o risco de nadar em águas desconhecidas, mergulhar em mares que não domino, resumo minha percepção sobre a implacável alquimia existencial em duas palavras: alívio e prazer.

Ao averiguar o baú dos meus mais curiosos e memoráveis momentos de gozo, não consigo, nenhuma vez sequer, encontrar, nem que vagas, memórias de prazeres que não tenham sido precedidos de alguma espécie de tensão. Desde os mais psicológicos aos mais fisiológicos, dos mais sofisticados até os mais primitivos, dos mais intensos aos mais superficiais, todos os prazeres estão ligados quase que invariavelmente ao alívio.

É de uma nobreza tão crua da parte do Criador estabelecer tal ligação intrínseca entre sensações tão aparentemente antagônicas, que constatar sua interdependência eleva o prazer ao universo do sagrado, em contraposição ao estigma moral a ele atribuído no decorrer da história da civilização ocidental.

Não é difícil avaliar a veracidade dessa conclusão. Pra começar com o que seria primordial, as necessidades fisiológicas, todas elas proporcionam prazer mediante êxito, resultado de uma tensão aliviada. A bexiga esvaziada, o intestino após cumprir seu papel no processo digestivo, a genitália tencionada pela super-irrigação-sangüínea provocada pela excitação sexual. Todos agradecem ao alívio, nos retribuindo com prazer.

O mesmo fenômeno se constata em diversas possibilidades do cotidiano. Só há prazer profundo numa partida cujo resultado tenha sido fruto de uma disputa épica, só há glória numa conquista suada, caso contrário, é farra, deleite e exacerbo, não júbilo.

O prazer depende do alívio pelo mesmo motivo que o belo depende do feio, pela mesma razão que o sofisticado depende do cafona. Tudo, digo, tudo, depende de padrões referenciais para ser mensurado. Desde o mito da caverna até a teoria do caos estamos sempre falando de extremos, de picos, e com o prazer não é diferente.

Viva a dor, viva a angústia, viva a tensão. Viva o alívio, viva o prazer.

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